Às vezes é bom mudar de lugar porque o pensamento muda junto. Como há meses toda sexta-feira nos reunimos em torno da mesa para ler e redigir textos, além de trocar ideias sobre as imagens feitas pelos alunos, resolvemos fazer as coisas de um modo um pouco diferente. Em vez de trabalhar dentro da sala de aula, fomos para a Vila Olímpica, que fica pertinho da Redes. Procuramos um canto à sombra onde fazer uma roda no gramado. Ali mesmo, ao ar livre, começamos com um exercício de associação de palavras. Cada aluno dizia uma palavra em função daquela que a pessoa anterior havia dito. Depois fizemos o percurso inverso de várias rodadas seguidas e surpreendentemente todos lembravam a palavra anterior que havia suscitado a associação.

 

Também fizemos outros exercícios para aprimorar a capacidade narrativa. Os alunos sortearam papeizinhos onde havia escrito lugares da Maré (padaria, locadora de vídeo, sacolão, salão de beleza, ponto de van etc) e receberam indicações de possíveis personagens (adolescente com um tênis novo, menina com as unhas pintadas de preto, senhor com uma caneta bic no bolso, homem bêbado, e assim por diante). Criamos uma série de narrativas muito diferentes a partir de um mesmo conjunto de elementos, prestando atenção no encadeamento dos eventos e na coerência das ações dos personagens em função de suas motivações.

 

Coincidentemente nossas narrativas foram interrompidas por uma história que se desenrolou ali mesmo. Alguns adolescentes começaram a apostar corrida à cavalo. Um dos meninos, de pé em cima de uma charrete puxada por um cavalo afoito, foi o personagem mais original da tarde.

Nossas saídas têm sido cada vez mais produtivas. Além de buscar o Rio vivido por Machado de Assis, os alunos começaram a intervir nos lugares visitados recriando situações inspiradas nos contos lidos em sala de aula.

 

No dia 1 de julho, um domingo, começamos nossas atividades bem cedinho subindo a ladeira para visitar a Igreja do Outeiro da Glória, construída no séc. XVIII. Ao chegar lá em cima, tocavam os sinos que assinalavam o encerramento da primeira missa do dia. Fomos muito bem recebidos pelos padres, que se vestem com batinas parecidas com aquelas usadas no século XIX.

 

Ruan e Franciele pediram a um dos padres que posasse para uma foto. Curiosos, os outros padres logo se aglomeraram ao nosso redor para saber como funcionam nossas câmeras. Jailton aproveitou as ruínas de uma escadaria para fotografar o momento inicial do "Conto de Escola", quando o personagem Pilar se vê dividido entre faltar ou não às aulas.

 

Pouco antes do almoço, seguimos para o jardim do Palácio do Catete, hoje Museu da República. O enorme jardim possui várias construções originais da época em que foi construído durante meados do séc. XIX e muitas árvores centenárias. Assim que chegamos, Augusto se deparou com um coreto e buscou o melhor enquadramento para fotografá-lo, sem deixar elementos dos dias de hoje aparecerem na foto.

 

Nosso dia terminou no Largo do Boticário, no Cosme Velho. Um beco estreito nos conduziu ao espaço aberto e sombreado do Largo, margeado por algumas casas antigas. Lá o rio Carioca ainda corre a céu aberto. Lucas fotografou as irmãs Yara e Yasmin com uma placa de "Vende-se" pendurada no pescoço, fazendo alusão ao conto "Anedota Pecuniária", cujo personagem principal vende as duas sobrinhas.