"Com qualquer tipo de câmera nas mãos é possível contar uma história". O fotógrafo Mário Grisolli deu início à apresentação do seu trabalho desafiando os alunos a buscarem pelas ruas cinco imagens para contar uma história. Nossa turma saiu animada para fotografar nos espaços do seu cotidiano. Encontraram e contaram várias histórias. Acompanhamos, por exemplo, a história de um pintinho, do ovo ao seu trágico fim no forno de uma padaria.

 

O exercício fez parte de uma tarde em que recebemos a visita da Fundação Eva Klabin, representada por Ruth Levy, que ao lado do fotógrafo Mário Grisolli tem visitado diferentes projetos sociais para apresentar o trabalho da Fundação. Mário se dedica à fotografia há muitos anos e, ao lado de seu assistente (o simpático Terra!), nos apresentou parte das suas experimentações tanto com a fotografia digital quanto com as câmeras analógicas.

 

O seu trabalho com os filmes nas analógicas despertou o interesse dos alunos. Mário nos contou sobre o seu trabalho com fotos panorâmicas e trouxe uma câmera adaptada com um mecanismo que permite que a própria câmera gire em torno de seu eixo enquanto fotografa. Não resistimos e fomos todos para a pracinha fazer um círculo ao redor da câmera para fazer uma foto! A camera deu quatro voltas completas sobre seu eixo. O resultado é uma imagem única, sem emendas, em um filme 120mm. Confira no vídeo acima!

 

Mário ainda nos mostrou outros trabalhos, como um ensaio em que acompanhava o dia a dia da sua cadela de estimação e um outro em que fotografou várias pessoas na praia e substituiu digitalmente os rostos das pessoas pelo seu próprio rosto. Cada uma dessas propostas conta uma história diferente. O maior aprendizado que resultou desse encontro foi a percepção de que é possível contar uma história complexa por meio de um único quadro ou cinco fotos se direcionarmos o nosso olhar e fizermos um recorte preciso.

 

Este encontro foi uma promoção da Fundação Eva Klabin, fruto da parceria com o Ponto de Cultura Rede de Arte & Cultura da Maré.

 

"É claro que também existe beleza na favela", anunciou o fotógrafo Léo Lima quando começou a mostrar para a nossa turma uma parte das fotografias que ele vem realizando na comunidade do Jacarezinho, onde vive. Léo tem 24 anos e começou a fotografar profissionalmente há apenas três. Formado pela Escola de Fotógrafos Populares do Observatório de Favelas, ele tem um rico portfólio que retrata a intimidade do cotidiano dos moradores do Jacarezinho, e de outras comunidades, como nenhum meio de comunicação faz.

 

Além de dar aulas de pinhole no Observatório, Léo produz conteúdo para a agência Imagens do Povo. Ele veio nos visitar para compartilhar com os alunos sua experiência na construção de imagens que apresentam cenas do dia a dia em sua comunidade, como um churrasco na laje ou uma procissão em homenagem à São Sebastião.

 

A importância dessa voz que surge em contraponto à cobertura dos grandes veículos que retratam a favela apenas como o lugar da violência e do medo foi o tema central da nossa conversa. As fotos de Léo são impregnadas de uma alegria contagiante, desde uma garotinha correndo em um beco às marcas de expressão mais profundas no rosto de uma senhora. As imagens nos remetem a uma enorme riqueza de significados em relação às circunstâncias em que foram realizadas e também funcionam como representações raramente veiculadas da vida na comunidade.

 

Os alunos tiveram a oportunidade de conhecer alguém que também vive em uma favela, e que construiu um discurso artístico, social e político a respeito de si e de sua comunidade por meio da fotografia. O trabalho do Léo permitiu a expansão não só da sua própria visão de mundo, mas da nossa também, pois sua produção artística nos revelou as coisas por outros ângulos.